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O Vampiro BRUCOLACO

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Na remota região de Morea, um homem excomungado encontrou seu fim após uma transgressão grave. Sem as cerimônias fúnebres que trazem paz à alma, seu corpo foi enterrado em um lugar apartado, longe da terra santificada.

Logo, os habitantes começaram a sofrer com aparições aterrorizantes que atribuíam ao espírito inquieto do excomungado. O medo espalhou-se pela vila como uma praga, as pessoas sussurravam histórias de sombras na noite, de olhos que brilhavam no escuro e de uma presença que sugava a vitalidade dos vivos.

Desesperados, decidiram abrir o sepulcro do condenado. O que encontraram era uma visão aterradora: o cadáver estava inchado, mas estranho, incólume. As veias do morto estavam cheias de um sangue fresco, como se tivesse sido colhido de vítimas recentes. Reconheceram-no então como um brucolaco, um vampiro, uma abominação que, segundo os gregos, retorna da morte para se alimentar dos vivos.

Tanto gregos quanto turcos acreditavam que os cadáveres dos brucolacos levantavam-se à noite, caminhavam entre os vivos e banqueteavam-se em seus pesadelos. Desenterrados, esses corpos mostravam-se corados e com veias pulsantes, saturadas do sangue roubado. Ao abrir seus corpos, jorrava sangue fresco, quase vivo, manchando a terra ao redor.

Os monges gregos, após uma discussão fervorosa, decidiram que o único remédio era desmembrar o corpo e fervê-lo em vinho, uma prática antiga e macabra para exterminar brucolacos. Porém, optaram primeiro por colocar o corpo na igreja, onde oraram incessantemente por sua salvação.

Certa manhã, enquanto um monge celebrava a missa, um estrondo sinistro ecoou pelo santuário. O som parecia vir do caixão. Com medo e hesitação, abriram o ataúde e ficaram chocados ao ver o corpo do excomungado em avançado estado de decomposição, uma visão que só deveria ocorrer após sete anos de sepultamento.

Naquele exato momento, como descobriram mais tarde, o patriarca havia assinado a absolvição pedida para a alma do excomungado. A absolvição e as orações constantes finalmente trouxeram o repouso eterno ao brucolaco, libertando a vila de sua sombra terrível e restaurando a paz aos corações dos moradores.

Assim, a lenda do brucolaco foi selada, uma lembrança sombria da tênue linha entre a vida e a morte, e do poder das crenças antigas em um mundo onde a superstição e a fé se entrelaçam de maneiras misteriosas e aterradoras.

* Adaptado do conto original de Collin de Plancy (1794 – 1881)

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